Me pediram para contar um pouco
sobre o “Santa Cruz RPG” , não sou a pessoa mais indicada para fazer uma
análise imparcial, mas vamos lá. Primeiro é interessante frisar o que “Santa
Cruz” não é, Santa Cruz não é uma segunda edição de “O Desafio dos Bandeirantes”
embora contenha elementos dele, é uma edição que coloca o mundo de Trevas/Arkanun
na mesma época de o desafio; ok então eu preciso de Trevas ou Arkanun para
jogar Santa Cruz? E eu digo não. Esperei todo o sistema e cenário estarem em licença
aberta para poder fazer de Santa Cruz um módulo básico e autossuficiente,
embora Trevas e Arkanun terão uma série de informações adicionais que podem
enriquecer suas aventuras, o mesmo para toda a série de o desafio dos
bandeirantes.
O que diferencia “Santa Cruz” dos outros RPGs com temática nacional? Nessa eu perguntaria se eles são iguais. “O Desafio dos Bandeirantes” é um jogo de aventuras de exploração com um tom de “Indiana Jones”, Mini Gurps é uma série didática pautada no realismo histórico, Hi-Brazil é um jogo sobre uma autoimagem do Brasil e Santa Cruz vem com uma proposta de horror barroco.
O que é barroco em Santa Cruz? O
contrate entre as trevas da inquisição, da ignorância, do misticismo, do
colonialismo, da escravidão com a luz de um mundo de possibilidades, do florescimento
da ciência, da filosofia idealizando um mundo aberto de possibilidades. Santa
Cruz é barroco porque se passa em uma época marcada por dualismos e dúvidas, os
germes de uma existência barroca já estavam no Arkanun, mas ali as
possibilidades são mais restritas e as trevas e a obscuridade do misticismo e
da ignorância são maiores.
Ah, legal, então é só um Arkanun
colonial? Sim e Não. Vamos à exposição do livro para ficar mais Claro.
Santa Cruz está dividido em 5
partes cada uma com uma parte de um conto introdutório que vai introduzindo o
leitor no universo de Santa Cruz.
A primeira parte “Ad hominen”
fala sobre a construção dos personagens coloniais. A escolha de Raça (que não
trás bônus mas ajuda a traçar a posição social do personagem e sua relação com
o mundo de Santa Cruz), Posição social e kit (Onde encontramos desde o
bandeirante, o capitão do mato, ao burocrata e alquimista), atributos,
aprimoramentos (Com alguns específicos como corpo fechado e cramulhão)
,perícias (capítulo que foi totalmente refeito pensando nos saberes e fazeres
próprios do período, a exemplo das ciências da natureza não estarem separadas e
ter regras específicas para o uso de boleadeiras). O capítulo equipamento
encerra a primeira parte oferecendo equipamentos comuns no período, armas
brancas e de fogo (com tempo de recarga) e preços dos equipamentos nas
principais moedas portuguesas e espanholas.
A segunda parte de Santa Cruz “Ars
Magica” fala sobre a arte da magia onde se encontram as regras para magia do
Sistema Daemon, utilização de pontos de heroicos e utilização de pontos fé para
sacerdotes cristão, candomblé (Regras para incorporar orixás) e xamanismo (que
também se utiliza de poderes mágicos em alguns casos).
A terceira parte “Ars Bellum” fala
sobre as regras básicas para a resolução de ações e combates, regras para
evolução e regras especiais para combate desarmado em Briga, Capoeira e
Huka-Huka.
A segunda metade de Santa Cruz é
composta de 100 páginas quase inteiramente descrevendo o cenário do mundo de
santa Cruz.
A quarta parte “Axis Mundi” conta
a história mundana do mundo de Trevas da baixa idade média (período de jogo do
RPG Arkanun) até o séc. XVII onde se passa Santa Cruz. Em seguida é relatada a
história mística do continente americano, da passagem de Nhanderú do Edhen para
paradísia sobre a região do monte Arequa, a formação do panteão tupi-guarani e
inca na américa do sul, A constituição da cidade de Olmec em pardísia na
América Central, o contato dos povos nativos com os habitantes de Mú e
Atlântida, com o plano de Arkanun. A formação do bolsão de Pindorama em Arcádia
e o surgimento dos metamorfos sul americanos. A descoberta e colonização da
terra movida pela luta entre sociedades secretas e os planos expansionistas e
colonialistas da cidade de prata a resistência dos nativos e a chegada dos
negros com novos espíritos, a chegada das sociedades secretas e tentativa de
estabelecimento de um Arkanun Arcanorum nestas novas terras, a vinda de
vampiros e demônios do velho mundo, a guerra mística da colonização, a queda de
jurupari o exílio dos Deuses ameríndios terminando com a descrição da
organização política sobrenatural das principais cidades e regiões de Santa
Cruz no séc.XVII (do sul da América do Sul ao Caribe) e quatro novas sociedades
secretas A ordem do Sol (ligadas às tradições incas) Ordem do Jaguar (Ligada
aos deuses caídos de Olmec e aos metamorfose), Ordem de Imale (Dissidência dos
magos petros que luta contra a escravidão) e Ordem de Luisíada (Dissidência
portuguesa da ordem de Yamesh que une magia e ciência náutica em seu plano de
iluminação e conquista).
A quinta parte de Santa Cruz “Mysticum
Creatura” fala sobre as criaturas sobrenaturais que existem no mundo de Santa
Cruz. Seu primeiro capítulo Pindorama, fala sobre o bolsão de pindorama e seus
habitantes, assim como como as viagens planares para lá vão se tornando mais
difíceis enquanto vai se fixando o bolsão de Hi-Brazil. Entre as criaturas de
pindorama (fadas nativas) encontamos:
- Ahores: Os descendentes de Aho
Aho, filho monstruoso de Tau e Kerana, criaturas que assumem a forma humana e
vem para a terra para sequestrar crianças que serão transformadas em caaporas.
- Curupiras: Os filhos de Yaci
Terere, Capotiras, Curupiras, assim como humanos transformados em fadas
chamados de caaporas.
- Igpupiaras: Os filhos de Mbói t’uí,
a serpente papagaio, criaturas humanoides, com a maldição de uma fome
insaciável por extremidades humanas, que protegem os cursos dágua.
- Kurupia: Os filhos de Kurupi,
duende com uma genitália que funciona como tentáculo, possuidores de um apetite
sexual insaciável.
- Luisons: Filhos do espírito da
morte, que vêem a imagem da terra mesclada a Spiritum, sofrem de uma espécie de
licantropia féerica e são atormentados pelas pessoas que matam.
- M’boi: Os deuses serpentes.
- Pomberos: Duendes negros de pés e
mãos peludas que guardam os segredos da magia.
- Sacis: Criaturas que apareceram
recentemente, meio fada, meio demônio, que aparentemente cumprem um plano
secreto de Jurupari.
O Segundo capítulo “Povos Fera”
fala sobre as raças metamórficas que existem nas florestas de Santa Cruz, o semi-plano
do inferno Verde e o conselho formado em resistência ao homem branco. Nele
encontramos:
Amazonas: O curioso e fofoqueiro
povo papagaio, espiões para as tribos e conselheiros de piratas.
Guaribás: O povo macaco, a guarda
da floresta. Os braços do conselho.
Jacaré-Açú: O povo jacaré,
guardião da memória e das tradições tribais.
Jaguar: O povo onça, juízes e
executores entre as tribos indígenas, se dividem em duas tribos, os jaguará que
vigiam a terra contra a invasão dos europeus e os Yawar que vigiam Spiritum e
os planos etéreos (Sendo grandes pajés).
Mojus: O sombrio e misterioso
povo cobra, que se alimenta de sangue e transmite sua maldição ao humanos.
Ni-Guará: Os homens Lobo-Guará,
Guerreiros solitários e nômades, considerando-se os guerreiros de Yaci ou
Pachamama. Forma diversas Tribos de acordo com suas alianças tribais.
Yarajara: O misterioso e sedutor
povo boto, formado por botos e Iaras.
Depois encontramos as Icamiabas
(Amazonas de Yaci, que possuem poderes da fé especiais da deusa lua);
kupendiepes homens alados de Arkanun trazidos por Anhangá para lutar contra os
Europeus; Jurupari (as 5 castas de demônios formadas quando as tropas da cidade
de prata jogaram Jurupari ao inferno); Aparições, Mortos vivos, Amaldiçoados
(Lobisomens e mulas sem cabeça e vampiros), Anjos e demônios (Os mesmos de
Arkanun/Trevas com alguns adicionais), animais fantásticos e os poderes
específicos das novas criaturas.
Há ainda um apêndice final “Morbum
et insaniam” com doenças para uso em Santa Cruz (da gripe à sífilis), a
estatística e fócus necessário para invocar toda uma lista de animais selvagens
da América do Sul, instruções para se criar um cenário de aventuras, para a
criação de aventuras e uma aventura pronta “A caçada à orquídea sangrenta”
baseada no filme homônimo, mas levada ao ambiente de Santa Cruz e uma ficha
completa com espaço para se registrar, magia, milagres, orixás, formas metamórficas,
manobras de combate, etc.
Santa Cruz é um RPG completo, com
possibilidades de aventuras de intriga, exploração, horror ou pancadaria que só
necessitava de um melhor revisor de texto, mas não há nada que atrapalhe a
leitura. Palavrasescritas juntas fras
Es quebradas, mas não são
dominantes. Pode ser apenas frescura de quem achou que havia corrigido todos
esses erros e depois do livro impresso fica caçando defeitos. Boa leitura.
O Livro tem uma diagramação
bonita, embora a impressão escureceu algumas imagens e apagou detalhes, há
imagens também que ficaram um pouco quadriculadas, mas é o preço de uma
produção independente ( fora as obras de domínio público fiz umas duas imagens
que já me deram um grande trabalho). O livro pode ser encontrado para comprar
no site da Perse em versão PDF e Capa mole:
E em versão capa dura
Dá para se visualizar as
primeiras páginas para se conferir a diagramação e texto.
Leandro "Hallowone" Santos
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